A tirania que emerge das corporações.
Este ensaio foi originalmente apresentado como discurso no Senado dos Estados Unidos em 19 de junho de 2019.
Muitas legislaturas estaduais em todo o país tomaram medidas recentemente para proteger bebês em gestação da violência do aborto. Meu estado natal, Arkansas, acaba de aprovar uma lei protegendo bebês ainda não nascidos, depois de dezoito semanas de desenvolvimento. E essa reforma não é apenas apoiada pelos Arkansans. É apoiado por uma grande maioria de todos os americanos, mais de 70 por cento dos quais acreditam que bebês em gestação devem ser protegidos em ou antes desse estágio da gravidez.
Essas reformas são o trabalho do movimento pró-vida, que luta diariamente pelos mais vulneráveis entre nós. O movimento pró-vida procura mudar as leis, na mais nobre tradição do nosso país, trabalhando dentro do nosso sistema democrático para que as nossas leis cumpram o nosso princípio mais elevado: “todos os homens são criados iguais”, nas palavras da nossa Declaração. Que todos devem ter um direito básico à vida.
Mas é claro que isso é uma democracia, então nem todos concordam quando, ou mesmo se devemos proteger os nascituros. Eu entendo isso. Eu sei que há pessoas decentes em ambos os lados desta questão delicada. Nós resolvemos nossas diferenças e alcançamos compromissos através do debate democrático. O que nunca deveria acontecer, no entanto, são corporações de bilhões de dólares que tentam nos ditar essas questões morais. CEOs politicamente corretos não deveriam estar num tal negócio de ameaçar os americanos comuns.
Mas isso é exatamente o que temos visto ultimamente. As objeções mais veementes a essas leis pró-vida não vêm de baixo para cima – de cidadãos comuns que discordam uns dos outros -, mas de cima para baixo: de elites culturais e, cada vez mais, de corporações gigantes que exercem seu poder econômico como arma para punir o povo americano, por ousar desafiar seu extremismo pró-aborto.
Grandes empresas de mídia como Disney, Netflix e Warner Media ameaçaram paralisar a indústria cinematográfica da Geórgia, se seus moradores não dobrarem o joelho e traírem suas convicções pró-vida. E na última segunda-feira, o New York Times publicou uma página inteira de propaganda, organizada pelo lobby pró-aborto e assinada pelos CEOs de centenas de empresas, a dizer que as proteções legais para bebês em gestação são “ruins para os negócios”. Quão desagradável é isso?! Cuidar, de fato, para eles, de um bebê é “ruim para os negócios”!
Agora, eu entenderia por que apetrechos, como roupas da Planned Parenthood ou NARAL, deveriam dizer que os bebês são “ruins para os negócios”. Afinal, o aborto é o negócio deles, e eles estão apenas protegendo sua fatia de mercado. Mas e os outros CEOs? Por que eles acham que os bebês são “ruins para os negócios”?
Talvez porque eles querem que os seus trabalhadores se concentrem no trabalho – não construir uma família e criar filhos. Todos esses CEOs politicamente corretos querem homens e mulheres da empresa, não homens e mulheres de família. Eles apoiarão sua individualidade e auto-expressão apenas enquanto você permanecer independente, disponível, não ligado à nada e em pontualidade.
Você não conseguiu encontrar um exemplo mais perfeito disso do que a & Pizza, uma das empresas cujo CEO assinou o anúncio pró-aborto. A & Pizza nem oferece licença de maternidade remunerada para todos os seus funcionários, mas celebra sua “unidade” e “individualidade”. Ela até paga funcionários para obter uma tatuagem do logotipo da empresa. Então, se você quer ser um outdoor ambulante para seu empregador, a & Pizza pagará a conta. Mas se você está grávida de uma criança, azar. No espírito de alguns desses CEOs, eu poderia pedir um boicote à & Pizza e sua correção política. Mas você poderia simplesmente passar por eles e ignorar, porque a pizza deles é péssima, de qualquer forma.
Há uma tendência preocupante entre gigantescas corporações que usam riqueza e o poder delas para forçar o dogma progressista em um povo que não deseja. À medida que tais ativistas perdem o controle do Judiciário, eles se voltaram para um centro diferente de poder para impor suas opiniões sobre o resto do país. Desta vez é o poder privado, localizado em algumas megacidades das costas norte-americanas.
E isso não é um exagero. A esmagadora maioria das empresas que atacaram o movimento pró-vida, naquele anúncio do New York Times, estão sediadas nas costas, na esperança de governar o resto de nós como suas colônias, no interior. Mais de três quartos estão sediados em Nova York ou na Califórnia. Mais de uma dúzia são empresas estrangeiras. No entanto, essas mesmas empresas pretendem dizer a todo os Estados Unidos da América o que devemos pensar.
E por alguma razão, esse ultraje só parece ir em uma direção. Como estados como o Arkansas aprovaram leis pró-vida, outros estados infelizmente seguiram um caminho diferente, tirando filhos não nascidos de reconhecimento e proteção sob a lei. Estados como Nova York, Illinois e Vermont recentemente aprovaram leis declarando o aborto como um “direito fundamental”, acessível até momentos antes do nascimento por praticamente qualquer motivo, desde que você tenha um atestado médico.
Já começamos a ver as conseqüências dessas leis, que se esforçam tão poderosamente para desafiar e negar a humanidade do não-nascido. Na cidade de Nova York, os promotores recentemente retiraram uma acusação de aborto contra um homem que esfaqueou até a morte sua namorada e seu filho ainda não nascido. Eles desistiram dessa acusação porque a lei pró-aborto, que acabara de passar pela legislatura em Albany, removeu todas as penalidades criminais por matar um feto. De acordo com as leis do Estado de Nova York, o filho dessa mulher nunca existiu.
Leis pró-aborto aprovadas em Nova York, Illinois, Vermont e em outros lugares realmente merecem o rótulo de “radical”. Então, por que a mídia nacional não cobre essas leis radicais com a intensidade que reservou para estados como a Geórgia? Onde estão os CEOs indignados que professam se importar tanto com suas funcionárias? Em nenhum lugar será encontrado, porque a indignação é muito seletiva. Eles não falam pela maioria dos americanos, muito menos pelas mulheres. Em vez disso, eles estão tentando ativamente forçar uma agenda pró-aborto contra um público indesejado.
Essas empresas querem exercer um poder de veto sobre o debate democrático e as decisões dos cidadãos do Arkansas e dos cidadãos em todo o país. Eles querem forçar as últimas modas sociais da costa em pequenas cidades que nunca visitariam em um milhão de anos. Eles nos querem para trair nossas crenças mais profundas sobre a vida e a morte, em favor de uma conta especiosa de “igualdade.” Se há uma coisa que o anúncio do New York Times tem razão, é que “o futuro da igualdade está na balança”, quando se trata do aborto. Mas sua ideia de igualdade não inclui todos: ela omite e degrada os bebês ainda não nascidos como dispensáveis; menos ainda: os enxerga, até mesmo, como “ruins para os negócios”. Esse é um tipo estranho de igualdade, se você me perguntar.
Essa tendência de intolerância deve alarmar a todos, não importa sua opinião sobre essa questão delicada. Ameaça o debate democrático sobre esta questão e, em última instância, sobre todas as questões.
Mas apesar da campanha de pressão contra nós, estou animado, porque sei que o movimento pró-vida continuará como sempre, falando com a dignidade inerente de toda vida humana. Nem tudo pode ser medido numa folha de balanço corporativo. Algumas coisas são maiores do que resultados finais ou o que as corporações ricas consideram “ruim para os negócios”. A causa da vida é uma daquelas questões pelas quais vale a pena lutar.
Tom Cotton é o senador júnior dos Estados Unidos para o Arkansas.
Tradução livre.
Fonte: First Things.