Em nossa era metafisicamente confusa, grupos feministas pró-vida, como as Feministas da Nova Onda, estão oferecendo às mulheres uma alternativa ao magistério do movimento feminista e sua visão limitada da pessoalidade humana.
Feministas da Nova Onda (New Wave Feminists) foi fundado em 2004 por Destiny Herndon-De La Rosa. A concepção de Herndon não foi planejada. Ela chama a escolha de sua mãe para levá-la a termo, e todos os sacrifícios que a acompanharam, uma demonstração de verdadeira força feminista. Segundo ela, o aborto não é uma solução para a opressão das mulheres, mas verdadeiramente um sintoma da opressão:
“Nós temos essa cultura que treina as mulheres, desde a mais tenra idade, que a sexualidade delas é o seu único poder, o que … quebra as mulheres a partir de uma idade tão jovem e sexualiza todos os aspectos do seu ser.
Então, quando elas acabam engravidando, sentem que a coisa misericordiosa a se fazer é realizar um aborto, porque elas não são boas o suficiente para serem a única provedora da criança – que elas não conseguem fazer isso. Assim, todo esse tipo de coisa volta a … essa mentalidade de que as mulheres não são fortes o suficiente.
E, quando começamos a juntar essas conexões, percebemos que não poderíamos ser apenas pró-vida, não poderíamos ser apenas feministas. Esses dois têm muito mais em comum do que percebemos.”
Embora formalmente desconvidadas para a Marcha das Mulheres de 2017, devido a postura pró-vida delas, as Feministas da Nova Onda acabaram participando do ato de qualquer maneira. “Não trabalhamos para tornar o aborto ilegal, mas trabalhamos para torná-lo impensável e desnecessário, apoiando as mulheres”, disse Herndon.
Grande parte de seu trabalho inclui advogar pela saúde da mulher e oferecer oportunidades para mulheres que tem gestações de risco ou que estão em crise por causa da gravidez (mais recentemente com o aplicativo HelpAssistHer).
A alegação de Herndon de que o sacrifício de dar à luz, realizado por sua mãe, é uma demonstração da verdadeira força feminista indica que a força não é apenas o exercício do poder, mas o dom de si mesmo. É este modo singularmente feminino de doar, escrito na realidade dos nossos corpos, que distingue a dignidade de uma mulher frente ao homem.
Se uma mulher define sua dignidade apenas em termos de agência política, corre o risco de se reduzir a um mero mecanismo na máquina do poder. Até que as feministas abordem questões de pessoalidade com um saudável senso de realismo, elas nunca serão capazes de transcender os sistemas opressivos dos quais estão tentando escapar.
O movimento da NWF não é o único grupo de feministas Pró-vida – outras foram apresentadas, por exemplo, no documentário Pró-Vida Feminista, produzido de forma independente.
A NWF não faz nenhuma afirmação ontológica explícita sobre o que constitui a personalidade, e parece desinteressada em desafiar outros aspectos problemáticos da plataforma feminista dominante (por exemplo, a NWF também promove políticas de identidade e de contracepção). Ainda assim, sua visão do feminismo deve servir como um alerta para as feministas seculares que acreditam que o feminismo deve ser pró-aborto.
A ascensão das feministas pró-vida indica que este é o momento ideal para os cristãos se basearem nas conquistas desse movimento e oferecer às mulheres um meio de transcender a lógica do poder através de uma antropologia filosófica com mais nuances.
Os cristãos podem preencher os espaços em branco que as feministas – tanto as do mainstream quanto as da Nova Onda – tendem a ignorar. E a estrutura estabelecida por filósofos personalistas como João Paulo II e Edith Stein seria um lugar útil para começar.
O cunho do termo “gênio feminino” por João Paulo II, na carta de 1989, Mulieris Dignitatem, oferece uma visão do que constitui a dignidade da mulher. O gênio da mulher é derivado de sua estrutura integral, na qual seu corpo, alma e espírito se movem em unidade um com o outro.
João Paulo “lê” o corpo humano de acordo com a “hermenêutica do dom pessoal”. O modo de dom da mulher está escrito em seu corpo – sua capacidade de gerar nova vida no útero. Seu gênio está enraizado nessa consciência “interna” e na capacidade de receber.
Os escritos de Edith Stein sobre as mulheres desenvolvem uma visão de como as mulheres podem usar seus dons criativos no local de trabalho. Stein propôs que os homens precisam da presença “complementar” das mulheres em ambientes de trabalho dominados por homens.
Mas sua forma de pensar as mulheres no local de trabalho difere da lógica movida pelo poder de suas contrapartes feministas seculares da segunda onda. As mulheres não merecem apenas o direito de estar no local de trabalho – seus dons são necessários lá. A capacidade da mulher de doar pode ser valiosa tanto em casa quanto no mundo.
Stein escreve:
Toda profissão em que a alma da mulher se desenvolve e que pode ser formada pela alma da mulher é uma autêntica profissão da mulher … Pois uma colaboração saudável dos sexos na vida profissional só será possível se ambos alcançarem uma consciência calma e objetiva de suas naturezas e tirar conclusões práticas disso.
A lógica do dom próprio (do dom pessoal, ou “self-gift”) transcende estruturas de poder opressivo. Meramente objetivar obter poder político é ignorar o valor real das mulheres e os dons que elas podem oferecer à sociedade.
O movimento feminista pró-vida sugere que mais e mais pessoas estão percebendo que precisamos de um novo feminismo que afirme os dons únicos das mulheres e dos homens, tanto no lar quanto no mundo – uma necessidade que unicamente os cristãos são capazes de abordar.
Sem uma visão mais completa da feminilidade e da personalidade humana, as feministas tradicionais continuarão sua campanha prejudicial para eliminar os supostos “obstáculos” em seu caminho, levando ao nada gnóstico.
Stephen G. Adubato escreve da cidade de Nova York. Siga-o no Twitter @cracksinpomo.
Tradução livre, por Jeová Barros de Almeida Júnior.